Capítulo 37: o diário de uma procrastinadora
ideias que nunca saem da cabeça ou conteúdos que nunca vão ao ar: porque nem tudo é (apenas) procrastinação
eu procrastinarei, tu procrastinarás, nós procrastinaremos
miolo
Há alguns dias abri uma caixinha no Canal do Instagram da GLit para perguntar a vocês quais são suas maiores dificuldades na criação de conteúdo.
Duas respostas que apareceram por lá me chamaram a atenção porque pareciam duas formas diferentes da gente falar sobre procrastinação:
Respostas da @amariiasz e da @ketlenaires
Para começar, é bom a gente pensar no que realmente significa procrastinação, para que eu possa falar porque relacionei o tema com essas respostas:
Procrastinar nada mais é do que a ação de postergar, atrasar, adiar algo: pode ser um compromisso, uma tarefa ou atividade, por exemplo. Muitas vezes, procrastinamos passando na frente tarefas que são mais prazerosas ou com recompensas mais imediatas.
Sabe quando você precisa fazer alguma coisa importante, que vai te render benefícios a longo prazo e, quando você dá por si, já fez vinte outras pequenas coisas, mas não aquela realmente necessária?
Isso é procrastinar.
E isso também não significa que você seja uma procrastinadora crônica, que isso acontece em todas as áreas da sua vida. Talvez só aconteça, por exemplo, na hora de criar conteúdo.
Um detalhe interessante é que a procrastinação não acontece por questões apartadas, vai desde questões biológicas, psicológicas a sociais.
Do lado biológico acontece uma luta do nosso cérebro com ele mesmo: seu lado primitivo versus seu lado racional.
O lado primitivo do nosso cérebro é aquele que busca salvar energia para que a gente esteja pronto para executar uma tarefa imediata de suam importância, como se defender do ataque de um javali selvagem.
Por isso, ele busca recompensas imediatas e não gosta de perder tempo, energia e foco em coisas que não trarão isso.
Se a ideia é adiantar um post porque na próxima semana você estará mais apertada, tenha certeza que o cérebro primitivo não vai querer saber de priorizar essa demanda.
Já o lado racional é justamente o que tem visão de longo prazo, que sabe que se você não adiantar as tarefas, não conseguirá fazer tudo depois. É também ele que consegue ver os benefícios ou a necessidade de tal tarefa e, de fato, colocar a mão na massa.
A procrastinação surge justamente desse conflito entre lado primitivo e racional do nosso cérebro.
Tudo isso dentro da nossa cabeça, porém, para sabermos quem vai vencer essa batalha, é preciso colocar uma lupa nas questões sociais e psicológicas de cada indivíduo.
Por exemplo, é fácil demais procrastinar na criação de conteúdo quando ela não é a responsável por garantir seu salário no fim do mês. Mas nem sempre será possível adiar a entrega de um relatório no seu trabalho, porque seu emprego depende disso.
Como apontam alguns estudos, a maior parte das pessoas procrastina por questões emocionais e não por falta ou má gestão do seu tempo e rotina.
Aqui vão entrar questões de insegurança, medo, ansiedade, alto grau de cobrança, perfeccionismo, desorganização, falta de incentivo, etc.
Existem até mesmo questões que são sociais e culturais, como a comum punição para atrasos (seja no pagamento de uma fatura ou a perda de um projeto, por exemplo), e nenhuma recompensa pelo adiantamento dos prazos (como desconto por pagar o cartão antecipado ou um bônus no projeto).
Diante disso tudo, fica claro que sempre haverão vários elementos na nossa realidade que vão contribuir para a procrastinação.
E a nossa tarefa, antes de qualquer coisa, é entender o cerne da questão: o que faz a gente procrastinar.
Afinal, sem saber o porquê, dificilmente a gente vai conseguir trabalhar formas de evitar procrastinar e realizar as tarefas que precisamos ou queremos.
O Diário de uma Procrastinadora
Querido diário, eu sou uma procrastinadora quando o assunto é criar conteúdo. Talvez não crônica, mas certamente venho procrastinando há muito tempo.
Abrindo o livro da minha vida para você, é exatamente assim que meu diário deveria começar.
Apesar de ter sido um longo processo, eu notei que um dos motivos que me ajudava a procrastinar nas tarefas de criação de conteúdo era a desorganização.
Eu tinha 1001 livrinhos com informações de criação, ideias espalhadas por mil cantos, sem nenhuma estratégia clara para o que eu queria conseguir com meus conteúdos. Eu só ia criando, mas só ir criando já não funcionava mais pra mim e eu não queria mais só seguir o fluxo da correnteza.
Bem, arregacei as mangas e criei uma das formas de melhorar esse departamento da minha vida: fiz do zero um planner digital novinho em folha no Notion, 100% focado na produção de conteúdo literário e para meus projetos e plataformas, com espaço para anotações de livros, calendário, temas, estratégias, métricas, mídia kit, etc… Honestamente, a Ferrari da organização das creators do nicho, na minha nada humilde opinião.
Só que, depois de um tempo usando o planner, fazendo um ajuste aqui e outro ali para melhorar a usabilidade, não é que eu percebi que eu continuava procrastinando!
Parece até surreal e talvez você pense, ah, mas então você criou um planner procrastinador.
Mas, na verdade, eu não posso culpar a ferramenta.
Só posso culpar uma pessoa: e é você que está lendo.
Brincadeira, eu sei que só posso culpar eu mesma. 😅
De fato, o processo de me organizar ficou mil vezes mais fácil, porque eu tinha tudo em um único lugar, conseguia organizar as ideias e tirar boa parte do peso do cérebro. Eu realmente uso o Notion como um segundo cérebro muito operante e funcional no mundo digital.
O problema é que me organizar e planejar ficou tão mais legal que o lado primitivo do meu cérebro estava levando a melhor: a recompensa era ver tudo organizado, então a Renata de depois que se virasse para realmente criar alguma coisa. Naquele momento, eu só queria a satisfação de saber que eu havia organizado aquela parte da criação.
Mas a procrastinação não se resume a isso. Entram também outras questões pessoais que contribuíram para que eu tornasse o organizar e planejar meu novo método de procrastinação.
Cobranças altas demais, insegurança, perfeccionismo, insatisfação com as plataformas e com o que eu vinha criando há um bom tempo. Esses são só alguns exemplos, que, juntos, não foram ingredientes muito favoráveis para minha criação, mas eram solo fértil para a procrastinação.
Simplificando as ideias: planejar e organizar é como eu procrastino; insegurança, perfeccionismo, cobrança exacerbada, insatisfações, são o porquê eu procrastino.
Ter essa visão não resolveu todos os meus problemas (a vida não é tão simples assim), mas entender esse processo pessoal me ajudou e têm me ajudado muito a encontrar formas de fazer as pazes entre meu cérebro primitivo que só quer recompensas imediatas e com o racional, que sabe que não posso viver apenas delas.
E você, já sabe como e por quê você procrastina?
Lembrando que você sempre pode deixar seu comentário aqui para continuar o debate e falar das suas ideias ou responder esse e-mail para falar direto comigo.
ô abre alas que a literatura quer passar
entrelinha
Carnaval veio, foi-se e a literatura marcou história nos desfiles.
Uma delas é a inesquecível inspiração do livro Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves pela Portela, com um samba enredo que já marcou 2024.
O livro esgotado na Amazon, encabeçando a lista de Livro mais vendido (isso mesmo, livro, sem categoria específica, “apenas” O LIVRO mais vendido).
Apesar de ter se ouvido falar mais de Um Defeito de Cor, outros dois livros também inspiraram o samba enredo na Sapucaí:
Meu Destino é Ser Onça, de Alberto Mussa, inspirou o samba-enredo da Grande Rio.
E com homenagem ao povo Yanomami, a Acadêmicos do Salgueiro se inspirou no livro A queda do céu — palavras de um xamã Yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert.
rodapé
É sempre um prazer escrever para você, GLitter, e, se tiver algum tema que você gostaria de ver aqui na newsletter, sinta-se em casa para responder este e-mail: sua mensagem chega direto na minha caixa de entrada.
Obrigada por ler até o fim, a gente se lê na próxima quarta, GLitter!
O exposed veio ai! kkkkkkkkk
Amiga, sou sim uma procrastinadora crônica, mas consigo controlar isso em algumas áreas (ou pelo menos tenho conseguido desde que comecei a fazer terapia O_o) Na organização da casa, desapego de coisas físicas e em trabalhos essenciais que envolvam outras pessoas (como a editora ou canal do Leonardo), mas no que vai afetar somente a mim é muito mais difícil. Manualidades tem sido de grande ajuda, fazer sabonete, por exemplo, é um projeto que comecei e estou fazendo teste e a única coisa que me segura é o meu limite financeiro, mas na criação de conteúdo, nesse eu me lasco sempre, procrastino, acho ruim, nunca é hora perfeita, me critico e me coloco para baixo. DIFICIL!