Recapitulando os últimos tempos
prefácio
*A GLit não foi hackeada, ainda é a Renata que escreve do lado de cá. A chamada veio de um spam muito peculiar que recebi nos últimos tempos.*
Depois de toneladas de tempo, a GLit voltou.
Obrigada pra quem me contou que sentia saudades desses escritos, por quem mandou mensagem e pra quem, mesmo sem mandar nada, sentiu falta dos e-mails das 17h, às quartas.
Aproveito pra dar as boas-vindas para quem chegou nesse meio tempo e se inscreveu mesmo sem atualizações por aqui. Tudo isso me dá um quentim no coração e renova o desejo e os esforços para manter esse projeto.
Como contei no Capítulo 53, tive uma mudança para lá de caótica no meio de ano. Essa foi uma mudança física, de endereço, de casa que, apesar de ficar a apenas alguns quarteirões de distância, foi o suficiente para remexer na vida toda.
Depois que a poeira abaixou (porque convenhamos, ainda tem coisas que preciso organizar nesse longo pós mudança), e entre outros jobs e eventos, foi hora de tirar alguns planos do papel no que diz respeito ao meu eu artesã.
Se você não sabe, tenho uma loja chamada Empório Retipatia que começou lá em 2017 com velas inspiradas em livros e o nome Unicorn Candles.
De lá para cá já foram alguns outros nomes como Coisas de Sis e Quentim no Coração, agora consolidada como Empório Retipatia e não mais apenas uma loja de velas artesanais.
O Empório Retipatia é uma loja de artesanato inspirada em livros e aconchego que entrega um quentim pro seu coração.
Vou deixar o convite para quem não conhece passar no site emporioretipatia.com ou no Instagram @emporioretipatia:
Tudo isso me afastou um pouco de outras partes da criação de conteúdo não exatamente porque eu queria, mas porque só dava conta de uma coisa de cada vez.
Ao longo desse tempo vieram várias e várias pautas na cabeça, anotei um monte de coisas e sei que, em tempo, elas vão aparecer por aqui. Afinal, o nosso foco aqui é nossa vida de creator, o que inclui as pautas do momento do mercado literário, mas não se resume à elas.
Por isso, enquanto dou goles no meu chá, escrevo por aqui para falar um pouco do que vem acontecendo no meu mundo particular de creator e também no nosso mundo de creators, chegando (finalmente) a pauta principal de hoje:
"Livros e poesia destroem cérebros! já a televisão, o celular e o Instagram fazem bem para o cérebro!"
miolo
Disse ninguém, nunca, em lugar algum. Bem, eu até queria que fosse assim, mas a história é outra.
Imagem ilustrativa de um livro devorando um cérebro feito pela IA do Bing: achei muito pertinente com o tema de hoje.
Parece só um clickbait para lá de absurdo, mas essa frase do título sobre livros e poesia destruindo cérebros enquanto o Instagram, a televisão e o celular fazem bem veio de um e-mail que recebi no meu blog, o retipatia.com.
Para além do título do e-mail, essa era a mensagem do corpo do e-mail:
Caso você não consiga ler na imagem:
"Livros e poesia destroem cérebros! o que NÃO destroem cérebros é a televisão, o celular e o Instagram! e ignore a ciência pois a ciência mente e muito para mundo! inclusive a ciência é financiado pelo conhecimento e pela sabedoria que em vez de ser usado para o bem é usado para o mal! sabia disso?”
O que mais me chamou a atenção foi o fato de que a chamada sensacionalista (e mentirosa) foi repetida no texto e nenhum link ou outra forma de disseminação de vírus, por exemplo, foi anunciada.
Pesquisei na internet e encontrei alguns comentários aparentemente do mesmo remetente com textos quase idênticos.
Se é busca por atenção ou o quê, jamais saberei, mas acabei me lembrando dessa mensagem (e resgatando-a da caixa de spam) com as últimas notícias sobre o hábito de leitura no Brasil.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro e com aplicação pelo IPEC, trouxe dados de 2024 e a realidade estarrecedora de que o brasileiro está lendo menos.
Você pode ver a pesquisa completa no site do Instituto Pró-Livro e também um apanhado dessas informações nesse post da Intrínseca:
Muita gente ficou um pouco chocada com essa revelação. Mas gente, isso no ano em que a Bienal do Rio lotou e esgotou ingressos, no ano que o BookTok anda ainda mais de vento em poupa!?
Parece absurdo, mas isso acontece porque é muito fácil a gente ver o panorama apenas da nossa bolha. É uma bolha grande, sim, mas é uma bolha pequena quando se pensa no tamanho do Brasil.
Inclusive, analisar o cenário da leitura no Brasil também não é fácil, a gente tem muito mais perguntas que respostas e é algo que vai envolver fatores econômicos, sociais, culturais, estruturais e por aí vai...
Alguns vão de cara no ponto-dor: ah, é porque livro tá muito caro. É, eu não vou dizer que livro está barato, mas essa discussão também não pode se resumir a apontar dedos para editoras quando temos grandes fatores como o monopólio das gigantes do papel.
Não é apenas sobre o preço do livro, a cultura da leitura, vide o comentário estapafúrdio que recebi no blog, toca em pontos mais diversos. Da falta de incentivo familiar à apresentação da literatura nas escolas. Da sobrecarga de trabalho das pessoas e da consequente falta de tempo para qualquer tipo de lazer de boa parte da população (o que faz lembrar da importância da proposta de redução e fim da jornada de trabalho 6x1).
Saúde física e emocional, qualidade de vida, poder ter momentos de lazer e enxergar a leitura como um desses canais é um processo que precisa ser viabilizado estruturalmente e incentivado publicamente.
Não é apenas sobre ser acessível financeiramente, a própria pesquisa mostra que a classe A e B também não estão lendo. Não é só sobre incentivo nas escolas, porque quanto mais velhas, menos as pessoas estão lendo.
É sobre 36% das pessoas informando que têm dificuldade em compreender o que lê, sobre o elitismo literário que afasta muita gente do meio, sobre o vício das telas e sobre as bibliotecas: quem frequenta hoje em dia?
Geralmente o que a gente aponta como principal fator acaba partindo da nossa própria visão pessoal e dores: lembra daquele lançamento desejado que não deu pra comprar porque nem na Black Friday coube no bolso? Lembra daquela lista imensa da Amazon e que caiu R$0,02 o preço? Lembra daquela coisa que você comprou porque realmente precisava e não deu pra se mimar com um livrinho novo!? Lembra daquela pilha de não lidos que você não teve tempo/saúde/disposição/vontade para ler ainda? E tudo isso partindo do pressuposto de que você é leitor e estamos falando, na verdade, de quem está fora da bolha, de quem não lê.
São inúmeros pontos que compreendem o todo e que precisam de ações efetivas para atuar nas várias frentes do problema.
E, claro, tudo que falei escrevi aqui é também a partir da minha visão de pessoa que lê, rodeada de gente que não lê e esperançosa de que esses números podem sim melhorar e voltar a crescer.
A news de hoje, como tudo aqui na Glit, é um convite ao debate, você pode responder este e-mail que vou receber sua mensagem direto na minha caixa de entrada e também pode deixar seu comentário por aqui. É sempre um prazer te ler também, Glitter!
rodapé
Obrigada por ler e por estar por aqui, a gente se lê na próxima quarta, na hora do chá.