miolo
logo no primeiro Capítulo dessa news eu já pressupus um bocado de coisas. uma delas que ficou martelando aqui na última semana foi: o propósito ou o objetivo da criação de conteúdo literário.
uma das coisas que eu mais ouvi das pessoas em rolês aleatórios dessa internet é dizerem que criam porque gostam de livros e gostam de falar sobre eles (e com certeza eu já disse algo assim em algum momento de my life, pode ter certeza).
eu também gosto de comer e dormir (duas coisas que sou especialista, inclusive), mas eu não criei um blog ou uma rede social para falar dessas coisas.
eu poderia.
você também.
mas por que, dentre todas as coisas que você gosta, a literatura se destacou e te fez querer transformá-la em conteúdo?
*pausa dramática*
a arte de pressupor tem seu lado positivo. aqui na newsletter você pode ter lido alguma coisa (ou várias), discordado delas e simplesmente seguido o baile. e isso não me impediu de continuar pressupondo e concluir dizendo que o intuito final de quem fala de literatura é, em essência, incentivar a leitura.
será?
um estudo de caso: eu não comecei a falar de literatura porque queria mudar o mundo com grandiosidade e tornar as pessoas leitoras. ou trazer de volta os desertores, que não leem mais, para o mundo literário.
eu comecei meu blog em 2016 falando de coisas que eu gostava, como minhas coleções de Melissas e bonecas e cinema. uma delas era a literatura. por acabar conhecendo mais pessoas do meio literário, por gostar de ler e escrever, o foco literário começou a tomar forma.
e eu também não tinha ideias grandiosas. o objetivo da coisa toda era pessoal, único e objetivo (é, meu objetivo era objetivo). era sobre me incentivar a escrever. de quebra, eu passei a ler com mais frequência, conhecer outros gêneros, sair da zona de conforto.
mas, retornando ao principal aqui, o objetivo era pessoal.
o caminho da criação de conteúdo literário no blog me levou a criar também nas redes sociais.
e, com a criação constante, veio junto o questionamento: o meu objetivo é incentivar a leitura?
sim.
e não.
sim, de maneira ampla, eu quero que as pessoas conheçam as histórias que eu compartilho, que exista troca de ideias, que elas se inspirem a ler, conhecer. quero despertar curiosidade, despertar vontade de leitura. e toda vez que eu tenho alguma troca, feedback ou reconhecimento, a alegria do acontecido, nem Mastercard paga.
mas criar conteúdo não é apenas sobre isso.
incentivar a leitura no país, no estado ou até na sua cidade inteira pode ainda ser um objetivo amplo e geral demais.
na internet a gente alcança é de grãozinho em grãozinho e, aos poucos, sim, pode ser que você fale para um público que pareça uma cidade pequena (ou quem sabe uma grande).
mas isso não exclui o motivador mais essencial, aquele que é seu, antes de ser do mundo.
e aqui vou fazer uma necessária diferenciação que, muito provavelmente, existe mais na minha cabeça do que no mundo real:
propósito # objetivo
ambas são coisas bem parecidas, segundo uma pesquisa rápida powered by Google, olha só:
propósito:
intenção, projeto, desígnio;
aquilo que se busca alcançar, objetivo, finalidade, intuito.
objetivo:
aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; propósito;
relativo ao objeto.
inclusive, uma palavra acaba aparecendo na explicação da outra, reparou?
ainda assim, gosto de pensar o propósito como algo mais coletivo. é justamente sobre a ideia que a gente tem em mente de falar sobre literatura e gerar impactos positivos na vida de cada pessoa que nos acompanha. é algo mais difícil de se ter controle, mas que pode ser um guia na nossa produção e criação.
o objetivo é algo mais pessoal, algo que pode até ser igual ao de outra pessoa, mas que nasce da minha individualidade. ele é a meta de pagar um boleto, treinar alguma coisa, cultivar um hobby ou planejar um novo campo de trabalho, por exemplo.
o mais importante disso tudo, ou o que eu quero dizer com tudo isso é que ter um objetivo prático, financeiro, cultural, alegórico, pessoal, inventado, tresloucado, peculiar, ou como quer que seja, não exclui o seu propósito coletivo (ainda que, na prática, é isso que muitas pessoas pensam).
abre parêntesis em um passado não muito distante, em que eu ainda não tinha uma nova conta pequetucha no Instagram, recebi uma proposta de parceria. quando eu falei que cobrava pelo meu trabalho eis que me tornei uma mercenária que não queria incentivar a literatura. eu estava sendo absurda, desvalorizando a pessoa e o trabalho da pessoa que queria meu trabalho. engraçado, né? como eu queria trabalhar e pagar boletos, logo, eu não tinha mais um propósito para essa pessoa. eu era só o meu objetivo e ele era, para ela, puramente financeiro (o que aparentemente não é apenas crime, como também uma infâmia). fecha parêntesis
ter um objetivo grandioso e nobre não exclui seus sonhos e necessidades. não faz o boleto ser pago magicamente, não faz a casa se autolimpar e também não faz download do conteúdo do livro direto para o seu cérebro (infelizmente).
não é egoísta querer arrumar sua casa (literal e não literal), antes de ajudar o mundo.
e falo escrevo tudo isso porque ter consciência sobre qual é o seu objetivo, para além do seu propósito, seja enquanto um hobby, seja enquanto trabalho, traz uma perspectiva diferenciada para tudo.
pode te inspirar em dias e épocas confusas, difíceis e turbulentas. pode te direcionar na hora de criar também. pode te ajudar a alcançar até o seu propósito grandioso.
quando o assunto é seu objetivo, é aquela velha história:
"Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve" (Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol)
pode parecer clichê (e muito provavelmente é, como quase tudo na vida), mas ter essa consciência é um ótimo começo para guiar sua criação de conteúdo. desde a parte de organização, quanto a parte mão na massa.
mas, na prática, o que eu faço com esse objetivo?
vou te responder com outra pergunta: você pensa sobre qual é seu objetivo ao criar uma postagem?
para além de um CTA*, toda vez que você posta algo no seu feed, seja um Reels, seja uma foto, banner ou carrossel, é importante pensar em qual é seu objetivo com ele. o mesmo vale para os stories.
é entreter? divertir? informar? vender? divulgar? se posicionar? ensinar? engajar? interagir?
e esse objetivo específico tem que ser coerente com o meu objetivo macro, aquele que é só meu.
por exemplo, se eu quero que as pessoas conheçam e leiam o meu livro, como meu objetivo macro, eu preciso pensar em como os meus posts, um a um, vão ajudar nisso. não significa que eu falarei do meu livro em todo post que eu fizer, mas mesmo naqueles em que ele não apareça, é importante coesão e coerência. ou seja, seguir o meu objetivo maior.
seguindo a ideia de divulgar meu próprio livro, vamos supor que é um romance romântico. faz sentido que eu fale apenas de terror no me perfil e, de vez quando, eu fale do meu romance fofinho?
é claro que o público pode ter interesses diversos, como a gente tem, mas quando o assunto é conteúdo, é importante que ele tenha um direcionamento mínimo, porque isso contribui não apenas para que as pessoas se identifiquem, mas para que, post a post, stories a stories, criação a criação, você consiga chegar aos seus objetivos. afinal, cada uma dessas coisas afirma e reafirma quem você é, sobre o que você fala, o que você faz e acredita. é sobre sua credibilidade, autoridade, conhecimento, gosto e diferencial.
na prática, isso vai significar pensar se o que você produz hoje segue o caminho do seu objetivo maior.
*call to action, aquelas perguntinhas que a gente coloca no texto para incentivar as discussões, interações e debate do tema.
entrelinha 🎃
estou prestes a fazer uma péssima analogia sobre objetivos, totalmente impulsionada pelo hábito de assistir terror quase que diariamente na maratona de Halloween que eu e minha irmã fazemos anualmente.
abre parêntesis e se prepara que vou usar essas analogias mequetrefes até o Haloween passar fecha parêntesis
os vilões dos filmes de terror são os personagens mais focados em seus objetivos que você já viu passarem pelo cinema. se eles precisam alcançar o objetivo x, nada (nem ninguém) vai impedir. nem mesmo a magnânima morte.
é claro que aterrorizar e matar pessoas é uma coisa horrível, mas a tenacidade para alcançar objetivos desses personagens, é memorável. pense bem, todo vilão que se preza não se dá sequer o trabalho de correr atrás das suas vítimas, mas sempre vai conseguir alcançá-la na próxima esquina.
pensar, organizar e planejar as coisas com base no nosso objetivo é um elemento muito importante na criação de conteúdo. recomendo que você tente. 👻
contracapa
se tem uma coisa muito legal que me faz lembrar o Neil Gaiman e a Miley Cyrus é essa ideia toda de objetivo.
no discurso Faça Boa Arte, Neil Gaiman* diz que o que o ajudou a perseguir seu grande objetivo, o onde ele queria chegar, foi imaginá-lo como uma montanha. essa montanha estava distante, mas à vista. e cada coisa que ele fazia era um passo em direção a essa montanha. ou não.
obviamente, a montanha é o objetivo final que, para ele, era uma lista de realizações, como publicar um livro infantil, escrever um romance e uma hq.
a parte que ele precisou ajustar foi a rota que ele levaria para chegar na montanha. fazer esse ou aquele trabalho, trabalhar essa ou aquela outra ideia.
é claro que Neil Gaiman não é criador de conteúdo literário, como nós, reles mortais. mas o exemplo dele serve para lembrar duas coisas: a primeira é que ter em vista seu objetivo, ainda que distante, vai guiar seus passos e te ajudar a equilibrar sonhos e necessidades.
a segunda coisa é sobre o trajeto que a gente vai percorrer até a montanha.
e é aqui que entra a Miley Cyrus.
ou melhor, a clássica The Climb (eu sei que a música não é da Miley, mas é ela quem canta, tá).
nessa música clássica, que recomendo fortemente que você escute (Spotify|Prime) para sentir a vibe sofredora, a Miley canta sobre a importância da jornada. e se você ler o discurso do Neil Gaiman, vai ver que ele também fala sobre isso. juro, está tudo conectado:
e eu levei esse textão todo da GLit para te dizer que, se você não tem um objetivo claro, eu sugiro fortemente que trace algum ou descubra o que você vem perseguindo na sua jornada. ou, toda vez que achar que não está chegando em algum lugar, conseguindo o que deseja, o gato de Cheshire vai aparecer para te dizer que, então, pouco importa o caminho que você vai percorrer, porque qualquer lugar serve.
*o discurso está disponível nos livros: ‘Erros Fantásticos: o discurso faça boa arte de Neil Gaiman’ e também em ‘Arte Importa - porque sua imaginação pode mudar o mundo’, ambos publicados pela Intrínseca.
rodapé
obrigada por ler até o fim. se quiser responder qualquer coisa, vou ficar feliz em te ler também.
e obrigada por ler até o final.
Ler este capítulo da Glit foi uma luz no meu horizonte, sério mesmo! Gostei muito, muito mesmo, quando você disse: "mas isso não exclui o motivador mais essencial, aquele que é seu, antes de ser do mundo."
Eu me esqueço com frequência disso, então um lembrete é sempre bom. Obrigada por compartilhar suas ideias e dicas com a gente ♥