miolo
dia desses vi um vídeo muito bom que fala que a carreira de criador de conteúdo costuma durar uma média de 5 a 7 anos (você pode assistir aqui - em inglês).
uma das coisas mais interessantes que observo quando o assunto é a criação de conteúdo (e provavelmente é algo que acontece em outros setores da nossa vida), é como a maior dificuldade não está em começar, mas sim na permanência das coisas.
tirar um projeto do papel tem lá seus desafios, desde a boa e velha procrastinação, autossabotagem ou a real falta de tempo. mas, quando nos dedicamos a colocar o projeto em ação, nada pode nos parar. como diz a Sia em Unstoppable, podemos ser um Porshe sem freios.
e talvez essa seja exatamente a raiz dos problemas (ou pelo menos, uma de suas bases): a concentração enorme de energia que colocamos no começo e nos esquecemos que, para muitas coisas, é necessária parcimônia, sabe!? desprender um pouco de cada vez para conseguir ser permanente.
essa é uma questão que, para mim, tem tudo a ver com criação de conteúdo. porque logo descobrimos que a dificuldade vem mesmo é com a tal da permanência.
continuidade. frequência. consistência.
pode escolher qual das palavras mais se encaixa à sua ideia de permanência, eu mesma costumo falar em frequência e consistência, mas hoje a permanência se encaixou melhor.
permanência
substantivo feminino
ato de permanecer
estado, condição ou qualidade de permanente; constância, continuidade, firmeza.
permanecer é a capacidade de continuar mesmo diante das inúmeras subidas e descidas da montanha-russa que é a trajetória de criar conteúdo. continuar de outro jeito, do mesmo jeito, ou de um novo jeito. (continuar, firme ou não, porque ninguém é de aço e nem precisa ser)
quando falo em permanência, um ingrediente considerado tão essencial para que nós honremos os deuses algoritmos, é necessário que o criar se ajuste e adeque à nossa realidade. e, por mais que eu queira ser positiva, a maior parte dos ensinamentos que já vi mundo afora são sobre você trabalhar para as redes e não elas trabalharem para você.
é claro que esse é também um movimento que encontra uma maré contrária, ainda que bem menor, que considera aspectos como o slow content (se quiser conhecer o slow content, tem um post meu que pode te ajudar), a produção humanizada e a qualidade, sobre o número.
ainda assim, a maior parte dessas coisas têm o condão de ser voltado para o lado de quem cria com a finalidade de vender. e, quando tentamos adaptar as ideias, conceitos e estratégias para quem cria conteúdo do nicho literário, mas não vai necessariamente vender um produto ou serviço, a coisa muda um pouco de figura.
um exemplo bem simples é a ideia reforçada nos últimos tempos de que criador é # de vendedor.
é certo que nosso trabalho pode ser convertido em vendas diretas e indiretas, de produtos e serviços nossos ou de terceiros, mas o ponto primordial da criação de conteúdo literário não se resume à venda de livros ou outros itens. em essência, o que todo criador quer ao falar sobre livros é o incentivo à literatura no nosso país que ainda lê tão pouco (mesmo com as hypes do TikTok).
então, como eu adapto e aplico estratégias de marketing digital e de conteúdo, que não estão sendo criadas para criadores e para o meu nicho?
bem, é sobre isso que falaremos, capítulo a capítulo, aqui na Gentileza Literária.
livraria
um livro para chorar (e para ser lido com a terapia em dia). esta é uma indicação de um livro que não li, mas quero. e posso dizer que é da mesma autora do livro que nasceu clássico, ‘Uma Vida Pequena’ (outro que é para ler com a terapia em dia e que eu não terminei de ler ainda. preciso retomar). conheça mais aqui (link comissionado).
entrelinha
o jardim secreto da permanência
"É o sol brilhando na chuva e a chuva caindo no sol, e coisas brotando da terra e trabalhando embaixo dela."
recentemente li O Jardim Secreto de Frances Hodgson Burnett pela primeira vez e, entre rememorar a clássica adaptação de 1993 - que assisti muito na Sessão da Tarde - posso dizer que além de me apaixonar pela história, acredito que ela é a cara da estação que está chegando.
a história da menina que fica órfã e vai morar numa mansão em que sua principal companhia é a solidão, se transforma com a força das estações e nos oferece lições sobre amizade, luto, perda, egoísmo, solidão e amadurecimento.
uma das coisas mais incríveis que a história oferece é a transformação dos personagens, cada qual à sua maneira, enquanto o jardim passa de esquecido a secreto e enquanto pequenas mãos trabalham para que a terra respire, a água irrigue as sementes e as flores possam brotar.
ser permanente na criação de conteúdo é como cultivar um jardim secreto.
muito do que é visível se resume às folhas verdes e botões de flores. a maior parte do trabalho que é essencial é realizado debaixo da terra. ele é a base de toda a beleza dos botões, é difícil e exige muito e, na maior parte das vezes, é invisível.
por ser invisível costuma ser julgado como irrelevante, pequeno, fácil ou inexistente. mas a verdade é que é nele que reside a responsabilidade, a cobrança, a parte criativa e de criação, a mão na massa e muito mais.
ter consciência desse processo e que o todo é muito maior que o feed nos lembra que a permanência não se mantém apenas por postagem publicada, é bem maior que isso. para ser permanente é preciso cuidar também de forma permanente do seu jardim. afinal, "a magia funciona melhor quando você se exercita”.
contracapa
já postei diariamente no Instagram por mais de um ano. não é que eu confundia diariamente com permanente, com frequência, mas eu acreditava que era a fórmula do sucesso, de ser lembrada. era o jeito certo de criar, sabe!?
abre parêntesis não tem problema algum se você gosta, pode e quer postar diariamente, ok! o rolê aqui é outro! fecha parêntesis
coincidentemente, a época em que eu mais postava foi também a que entrei em depressão. em outras palavras, o modo como eu me relacionava com a criação de conteúdo não era das mais saudáveis (que fique claro, ela não foi a única responsável pela doença, afinal, como diria Richard Kelly, ao falar de Donnnie Darko, “a vida nunca é sobre uma coisa só”).
com o tempo, percebi que permanência não é sobre todo dia e muito menos sobre estar disponível e presente o tempo inteiro, ou exatamente sobre regularidade. é muito mais sobre deixar sua marca permanente nas pessoas.
acredito que a coisa mais importante que aprendi nos últimos anos sobre permanência (e é algo ao qual eu me ajusto constantemente), é o fato de que ela é também sobre várias coisas como: organização, disciplina, vontade, capacidade, disponibilidade, tempo, jogo de cintura e prática. mas, mais do que tudo isso, é sobre a capacidade de nos adaptarmos. seja à uma nova rotina, à um novo formato de produção ou plataforma, uma nova realidade ou ambiente. nossa capacidade de nos adaptar, seja para entender que, em dado momento, nossa permanência será pausada ou alterada, seja para conseguir mantê-la, é o que torna possível a gente rebolar, ajustar, mudar e trabalhar da melhor forma possível (e acredito muito que a melhor forma possível é aquela que você é capaz hoje).
qual marca permanente você tem deixado nas pessoas?
ela não sabia, mas a cada vez que não desistiu, se tornou um pouco mais permanente
rodapé
obrigada por estar aqui, eu e a GLit desejamos boas-vindas e que nossa jornada seja incrível!
se quiser responder qualquer coisa, vou ficar feliz em te ler também.
e obrigada por ler até o final.