miolo
é bem provável que você já tenha ouvido falar da Marie Kondo. mas, caso não tenha, segue uma mini bio:
Marie Kondo
japonesa, especialista em organização pessoal, empresária e escritora.
seus livros publicados no Brasil são:
- alegria no trabalho - Sextante 2022
- a mágica da arrumação em quadrinhos - Agir 2019
- isso me traz alegria - Sextante 2016
- a mágica da arrumação - Sextante 2015
seriados da Netflix:
Ordem na Casa (2019)
A Magia do Dia a Dia (2021)
ou, se você é leitor, talvez tenha conhecido o meme que fala de que devemos ter, no máximo, 30 livros:
(adianto que o babado não é bem assim)
a Marie Kondo desenvolveu seu próprio método de organização e se tornou famosa e reconhecida no seu país e no mundo com seus ideais minimalistas.
um desses ideais pode ser transmitido pela frase que intitula um de seus livros: isso me traz alegria. em inglês:
no seu método, Kondo ensina que, quando você vai praticar o desapego, dar aquela organizada nas coisas, precisa seguir esse passo:
você segura o item na sua mão;
você se pergunta se ele te traz alegria;
conforme sua resposta, o item fica ou segue para uma nova jornada (lixo, doação, reforma, etc.).
o que é interessante em tudo isso é que, se eu fosse literalmente aplicar essa máxima na minha casa, eu descartaria muitos itens essenciais, como uma vassoura. porque, apesar de amar ver a casa limpa, eu não tenho apego emocional algum com a vassoura (ou em fazer faxina). a não ser que eu conseguisse voar com ela.
mas, sejamos sinceros, se você fosse fazer uma limpa no guarda-roupas, por exemplo. aí a coisa muda de figura, porque com roupas é mais fácil da gente criar apego sentimental.
e eu sou alguém bem apegada. para quase tudo (livros é uma dessas coisas).
o primeiro contato que tive com a Marie Kondo foi exatamente com o livro Isso Me Traz Alegria. mas preciso confessar que só li o comecinho e ficou por isso mesmo.
assisti à série Ordem na Casa, que tem poucos episódios. e é aquelas coisas que quase parecem um guilty pleasure: ver a bagunça dos outros faz a nossa parecer menor. ehehe
e foi assim que eu pensei… e se a Marie Kondo passasse na minha rede social? o que será que ela me incentivaria a fazer a partir da pergunta isso me traz alegria?
acredito que existe uma lógica por detrás dessa coisa do ‘isso me traz alegria’. e, apesar de eu ter sido péssima nas aulas de lógica da faculdade, essa ideia da alegria têm seu sentido (pelo menos na minha cabeça).
muitas vezes é difícil entender a raiz da nossa insatisfação com o nosso trabalho. se uma coisinha incomoda, tudo está ruim, falho, meia boca.
por isso, a ideia aqui é que você entre, por exemplo, no seu perfil do Instagram e se pergunte: isso me traz alegria?
para além de um hobby ou trabalho, acredito que estar contente e feliz com o que você produz é importante. já falei disso antes por aqui, mas hoje é uma análise crítica mesmo. pensando se tem algo que não funciona mais, mas que você ainda se apega. se tem aquele jeans de vinte anos atrás que você espera servir; se tem aquela blusa que foi tão barata, mas que você nunca vestiu.
o que eu quero que você pense é se as coisas que existem hoje fazem sentido para o seu eu de hoje. seu eu que lê, que cria, que vive.
você pode analisar isso individualmente, pensando, por exemplo, se tem algum formato de postagem que você faz porque todo mundo faz, todo mundo gosta, só porque engaja ou só porque deve. esses posts trazem alegria para você?
e tem outra coisa também. essa rede, como um todo, ela traz alegria para você?
eu sei que essa é uma pergunta perigosa, mas que vale a pena a gente fazer.
abre parêntesis por favor, não quero ninguém deletando uma conta hoje porque eu disse que era isso que deveria ser feito se, no momento, ela não te traz alegria. siga o rolê e vamos pensar um cadinho mais. fecha parêntesis
até porque, sabemos como essa linha entre alegria e tristeza que as redes são capazes de proporcionar são bem sutis. no mesmo minuto que você fica contente com algo, vem um balde de água fria sobre outro aspecto. é uma montanha-russa incessante, a gente bem sabe disso.
por isso, a ideia aqui é você consiga repensar o papel que essa conta, canal ou seja lá o que for têm exercido na sua vida. seja como um hobby ou como um trabalho.
muitas vezes a gente está com a faca e o queijo na mão, mas precisamos fatiar para saborear.
ah e eu também sei que esse tema se relaciona muito com a última news, ajuste agora as cores e o som do seu equipamento. mas queria dizer que, enquanto semana passada a gente buscava algumas formas mais objetivas de medir e entender como vai a nossa conta, hoje a ideia é pensar sim, de um jeito mais emocional. de como esse espaço afeta você (seja de forma positiva, ou não).
eu sei que falando parece uma tarefa fácil. porém, o fato é que também é fácil a gente confundir o nosso sparkle joy da coisa para nós, com o fato dela ser bonita, querida e reconhecida por outros e rentável. ao mesmo tempo, é fácil desgostar quando não tem essas coisas.
esse é um papo para você ter com você mesma. precisa ser sincera e é um caminho bem legal para analisar o que você pode fazer para que esse espaço-canal-lugar-conta, lhe traga alegria. ou não, né!?
entrelinha
quando falo sobre sparkle joy, falo, irremediavelmente, sobre desapego. e isso leva para outra palavra com d: desistência
desapegar e desistir são coisas que são separadas por uma linha muito fina.
desapegar dá ideia de que vamos deixar ir uma coisa que não funciona mais, que não faz bem, ou que simplesmente é necessário (talvez, em parte por causa da cultura do let it go que deixa tudo mais lindo).
desistir dá a impressão de derrota, de perda, de incapacidade, incompetência (são escolhas fortes de palavra, mas sei que são sentimentos que facilmente são relacionados).
por isso, às vezes a gente bate tanto em teclas que não funcionam, que não nos cabem mais ou que não nos fazem bem. porque desistir parece muito com assumir uma derrota. e desapegar a gente acaba usando mais pra roupas, acessórios, sapatos e coisinhas aleatórias.
independentemente da escolha de palavras, let it go, como a Elsa nos ensinou, pode ser importante também.
porque tira da gente o peso de sapatos que não nos servem ou que dão calo.
somos tão programados a perseguir a conquista e valorizar a persistência - nem sempre de um modo racional ou saudável - que é difícil desistir, desapegar ou recalcular rotas é essencial no processo. (inclusive a positividade tóxica do trabalhe enquanto eles dormem só omite o restante da frase: e tenha um AVC antes dos 30).
sem romantizar nada, precisar desistir ou desapegar de algo pode ser uma droga. eu sei, você também sabe.
contudo, se for o caso, pensa se a raiz do seu medo em desistir é realmente sobre o impacto que não fazer mais essa coisa pode ter ou se é sobre a aparência que isso pode ter para as outras pessoas.
contracapa
fugindo do papo pseudoprofundo agora, e se a Marie Kondo visse seu armário, estante, prateleira ou o local que você guarda seus livros. ela diria que sua organização sparkle joy? ou ela diria que o ideal são apenas 30 livros? ehehe
posso dizer que ela diria que eu sou (meio) acumuladora. quem me acompanha no Instagram talvez tenha visto que na última vez que eu arrumei a minha estante, “sobraram” mais de 80 livros (que já chegam a quase 100 com as últimas compras e recebidos que estão sem lugar). esse sobrou indica que é uma pilha enorme que não coube na estante do quarto (e nem na que tenho no cômodo da bagunça da casa).
costumo praticar o desapego com livros, com uma frequência não muito grande. às vezes eu doo, vendo, troco, sorteio, etc. mas ultimamente falta tempo até pra organizar isso.
é sempre uma seleção super criteriosa, porque eu sempre fico naquela ideia de ‘e se uma hora eu quiser ler/precisar consultar/quiser reler/precisar para criar algum conteúdo? mas a verdade é que muitas vezes é só uma desculpa porque sempre tive dificuldades em desapegar de certas coisas, especialmente as que eu coleciono ou gosto muito. como:
livros;
amarguras;
coisas de papelaria;
Melissas;
discussões imaginárias;
personagens que falam na minha cabeça;
livros, de novo;
coisas que uso pra montar cenário.
o lado positivo é que, quando eu resolvo, de fato, desapegar, é como se um espírito baixasse em mim, porque esta Renata que vos escreve não costuma parar.
então, se eu pareci muito certa nas pseudoconversas iniciais, saiba que eu tenho minhas dificuldades em desapegar, deixar ir e desistir.
o que se relaciona muito com o que falei na edição anterior sobre minha dificuldade de me adaptar a algumas mudanças na criação de conteúdo. porque desapegar e desistir implica em mudança e não apenas em espaço vago daquilo que deixamos.
rodapé
obrigada por ler os devaneios da semana até o fim. se quiser me contar sobre suas desistências, desapegos, acúmulos ou qualquer coisa ou uma coisa qualquer, estou sempre feliz em poder te ler também.
a gente se fala na próxima quarta.
p.s. desculpa, essa news não foi devidamente revisada, o status do momento é: estou entregando a rapadura. mas foi escrita com amor.
Primeiro: adoro o meme dos 30 livros
Segundo: sempre que vejo, leio ou escuto Marie Kondo a Emily Gilmore grita na minha cabeça "with dosen't bring me joy, out it goes"
Terceiro: To fazendo muito esse processo com minha estadia virtual. Se não to afim nem apareço, se to afim faço o que to afim e se dou de cara com pessoas que me fazem mal bloqueio.
Como não vivo disso, não faz sentido ter pressão, só é um hobby legal e que me relaciona com o meu lado jovem e minha memória adolescente.