Capítulo XIII: as maravilhas da Inteligência Artificial
e o que a gente aceita compartilhar mundo afora
miolo
Text to Image: uma inteligência artificial bem mais prendada que eu
o furor com o app Lensa, que faz versões ilustradas e mágicas das pessoas através de IA (inteligência artificial), me fez lembrar de algumas coisas que valem compartilhar por aqui.
nas últimas semanas andei testando a ferramenta de IA do Canva, a Text to Image. ela permite que você crie ilustrações dos mais diversos estilos, a partir da descrição que você fornece em frases ou palavras.
vou deixar aqui alguns exemplos de uma das descrições que criei (na verdade, que ela criou), pensando em um cantinho literário com vibe outonal (eu não facilitei a vida da IA, pra ser sincera, mas é muito interessante observar como ela uniu a ideia do outono aos cantinhos de leitura):
a ferramenta, que ainda está em fase de testes, dá várias opções de tipos de ilustração, que são:
surpresa (ele escolhe o estilo para você);
foto;
desenho;
3D;
pintura;
padrão;
arte conceitual.
o processo é simples: você faz a descrição em texto, seleciona a opção que deseja e ele abre quatro ilustrações (podemos chamar essas ilustrações de artes?) criadas a partir dessa combinação.
se você reparar em detalhes, vai perceber que alguns aspectos ainda são confusos. as mãos, rostos, braços e pernas são alguns dos elementos que mais saíram bagunçados nos testes que fiz.
ainda assim, posso dizer que a experiência de criar imagens dessa maneira é nada menos que surreal.
a tecnologia é assombrosa.
especialmente porque, apesar da criatividade ser uma qualidade inerentemente humana (e até animal), mesmo que os caminhos que uma inteligência artificial utiliza sejam pré-programados, não dá para deixar de ver isso como um verdadeiro caminho criativo.
por isso, surge a pergunta, será que entramos na era da criatividade artificial?
e, acima de tudo, em que lugar nós ficamos enquanto pessoas pensantes, artistas, criativos e criadores?
eu sei que não tem uma resposta prática para isso e é difícil prever o futuro em algumas linhas. mas cada vez mais se torna necessário reconhecermos a importância e a relevância das conectividades humanas que se estabelecem na vida real e virtual. especialmente quando, em muitas formas, a tendência é que a IA tome cada vez mais do espaço que já foi inerentemente humano.
p.s. isso me fez pensar no filme Ella [2013 com Joaquin Phoenix], que, inclusive, eu nunca assisti, mas acabei relacionando ao tema. quem já viu, sinta-se livre para me contar se realmente faz sentido.
entrelinha
e a nossa segurança, para aonde é que vai?
voltando lá para a ideia do Lensa, que virou uma verdadeira febre, é interessante como a moda, o glamour e um bom marketing são capazes de nos convencer de quase qualquer coisa.
muito já se falou sobre os termos de privacidade do Lensa, que são bem questionáveis (e quem lê esses danados termos, afinal de contas?), já que você não retém direito alguma sobre as imagens que são geradas.
dentro disso, estamos dispondo não apenas de nossos dados pessoais, mas também do nosso rosto e aparência e permitindo que sejam feitas alterações nelas.
além dessas transformações reforçarem alguns padrões estéticos nada saudáveis, será que todo mundo que usou/usa/vai usar tem noção do que é verdadeiramente fornecer seu eu para ser escaneado, copiado, alterado e replicado?
olhando assim pode parecer horroroso, mas a gente já fornece até nossa alma sem saber só ao clicar em ‘aceito os termos e cookies’ em muitos sites. ou mesmo através dos serviços que utilizamos.
como é que o Spotify sabe montar playlists tão maravilhosas e a nossa cara? sem contar na retrospectiva, que vira febre todo fim de ano e, na verdade, só mostra o quanto o app sabe de cada suspiro que você dá.
a Netflix, a Amazon, o Instagram, como eles sabem que anúncio, que recomendação fazer?
a verdade é que fornecemos muita informação a nosso respeito, o tempo todo. e eles são mestres em transformar dados em informação. informação em conhecimento (sobre nós).
além disso, toda essa ideia e lembrete do quanto estamos expostos na rede, de um modo geral, me fez pensar no livro Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, de Jaron Lanier [2018|Intrínseca|Amazon].
adianto que, apesar dos argumentos precisarem ser lidos com parcimônia - e o fato de que, claro, eu não deletei minhas redes sociais após a leitura -, é interessante observar o panorama do por trás das grandes redes para entender o valor que temos dentro das plataformas enquanto consumidores e números. além da facilidade de sermos manejados dentro delas.
contracapa
a ficção científica sendo maravilhosa, como sempre
quando falamos em inteligência artificial, tecnologia avançada, ideias que parecem surreais, é fácil pensar em ficção científica.
mesmo que você não tenha o costume de ler, tenho certeza que já assistiu a algum filme do gênero: Matrix, Blade Runner, Duna, Interestellar, A Origem, Ela, Ex Machina… a lista é imensa.
mas uma das coisas que a ficção científica nos permite com primazia é imaginar o mundo futuro. dada a corrida tecnológica incessante, não necessariamente aquele mundo que está a 100 anos de distância, mas a realidade que bate à nossa porta, quem sabe, no mês que vem.
quando eu falo em ficção científica da vida real, quero dizer, de tecnologias que não cessam de nos surpreender, começo a refletir sobre os desdobramentos disso.
mais do que saber se os livros físicos sobreviverão, se os blogs ainda vão existir e como serão as redes sociais dentro do metaverso, é sobre pensar em qual patamar essa tecnologia vai chegar e em qual posição ela vai nos deixar. enquanto criadores, criativos, leitores, pensadores, escritores e amantes. enquanto humanos também.
e isso me leva para uma das minhas leituras mais amadas da ficção científica: Expiração, de Ted Chiang [2021|Intrínseca|Amazon].
o livro é composto por 9 contos que vão desde animais realistas com inteligência artificial que vivem numa espécie de metaverso (e que podem ser adotados), até uma imensa massa de pessoas que grava seu cotidiano 24h por 7, durante toda a vida, criando os chamados biologs.
são histórias que não se encerram na última página. são também contos que se relacionam muito com as questões que falei por aqui e muitas outras, profundas, tecnológicas e, especialmente, humanas.
é uma leitura com Selo Retipatia de Qualidade e, para quem não se aventurou pelo gênero, acho uma ótima pedida começar por um livro de contos, como Expiração.
rodapé
para quem ainda não sabe, a GLit tem um Instagram, o @gentilezaliteraria, e ficarei muito feliz em ter você por lá.
obrigada por ler até o fim, se quiser curtir, comentar e responder, ficarei feliz em ter ler também.
e a gente se lê na próxima quarta 📖💡
Eu achei essa app bizarro e nem baixei. Todo mundo que me mencionou curiosidade eu disse para passar longe a agora estamos vendo vários processos de privacidade sendo abertos contra eles. Até porque algumas pessoas utilizaram fotos bem intimas no app e vazou!!! A cabecinha do ser humano me mata de nervoso. Por isso sempre indico a série Person of interest. As pessoas tem que entender que IA não é brincadeira e que existem questões éticas por trás disso.