Capítulo 35: parcerias não definem a qualidade do seu trabalho
+ entrevista pocket com Lais Menini
parcerias não deviam ditar a nossa relação com os livros
miolo
O mundo dá voltas a galope e, por mais que às vezes a gente se sinta preparada, tem horas que é difícil se segurar e não cair no meio do caminho.
Em alguns dias pode ser que a criação de conteúdo faço mais ou menos sentido para a gente, pode ser que um pouco de fé seja necessária e uma pitada de estratégia e marketing ajudem também.
No meio disso, a gente precisa lidar com a síndrome da impostora, com algoritmos difíceis de decifrar, a danada da constância/frequência ideal e fazer tudo que o por trás das telas exige, mesmo quando a única certeza que temos é que tudo é incerto.
E quando o assunto são parcerias no nicho literário, a verdade é que, no senso comum, elas têm um símbolo de status: uma realização que parece inalcançável para a maioria dos reles mortais e que só gente x, y ou z vai conseguir.
É certo que nem sempre as parcerias mostram resultados satisfatórios em termos, por exemplo, de diversidade.
Mas o ponto que quero chamar a atenção aqui hoje surgiu depois de ler um relato de uma pessoa dizendo que iria parar de ler, porque nenhuma editora a seleciona para parcerias.
Não sei o quanto disso é verdade, mas sempre que sai algum resultado, a frustração de muita gente aparece de formas não muito diferentes dessa (eu mesma já tive minha cota nessa jornada de decepções).
Às vezes a notícia pega a gente em dias difíceis, às vezes, é mais um ano tentando e recebendo mais um punhado de nãos.
Para além de olhar a realidade do nosso conteúdo: será que o meu trabalho tá pronto para ser selecionado, será que ele é a cara dessa Editora, será que eu já consegui um público antes de querer que empresas notem o meu trabalho e queiram estar ali?
Para além de pensar sobre injustiça, porque nunca haverão vagas para todo mundo que deseja ser parceiro, entra a proposta de trabalho daquela empresa, entra o perfil de creators que eles querem trabalhar e entra a subjetividade de quem avalia, além dos critérios da própria empresa.
O que é triste nisso tudo é ver o quanto as pessoas alinham suas expectativas de leitura e de criação de conteúdo às parcerias, que nunca deveria ser o ponto de partida para alguém ler ou deixar de ler, criar ou deixar de criar.
E uso a palavra nunca sendo ousada mesmo, mas também porque nenhuma dessas duas coisas vão se sustentar se elas não partirem do seu desejo ou vontade. Ou até necessidade, se estiver relacionado ao seu trabalho.
Ganhar livros de parcerias não deve ser sua régua para nada disso, primeiro porque ninguém ganha livros de parcerias: existe contrapartida, existe responsabilidade. Ganhar livro é daquele seu parente ou amigo que te presenteou no seu aniversário e que você faz absolutamente o que quiser com o livro.
Parceria, também, não é régua de medida de sucesso. Ou, pelo menos, não deveria ser. Você que passou ou você que não passou não mereceram mais ou menos que outra pessoa. Ninguém é melhor creator por isso, ou uma criadora ruim por causa disso.
E é triste demais ver o quanto isso ainda afeta as pessoas e ainda vai afetar, porque, na cultura do nicho, receber livros ou ter parcerias ainda é um dos marcos mais fortes de sucesso.
Mas será que isso é realmente sucesso? É claro que é uma conquista para quem passou, gente, eu sei a glória que é ver seu nome numa lista dessas ou receber um e-mail de aprovação.
Mas será que deve ser nosso parâmetro de sucesso? Afinal, o que é sucesso para cada um? Muitas vezes, a gente não tem certeza dessa resposta, mas já entende que não é bem-sucedida porque fazemos da régua geral a nossa métrica de sucesso.
Toda essa ideia se juntou aqui na minha cabeça (essa nem era a pauta do dia), e acabei vendo um vídeo da Nádia Camuca no feed que me fez refletir ainda mais sobre merecimento, sucesso, e nossos sonhos, e achei que era sinal pra eu vir falar um pouco também:
Parceria é, antes de qualquer coisa, trabalho. E dá trabalho. Pode ser incrível e equilibrada, sim, pode ser uma ótima ferramenta para o seu trabalho também, mas tudo isso depende de quem está de cada lado, da sua realidade, momento de vida e de criação.
No fim das contas, isso tudo é para te convidar a pensar sobre o seu sinônimo de sucesso. Será que ele está atrelado ao que o mundo te diz que você precisa, ou ao que você realmente quer alcançar com o seu conteúdo, a sua comunidade, a sua leitura e a sua voz no mundo?
E se isso te deixou com alguma ideia, alguma semente de ideia de que seja, alguma reflexão boa ou se foi tudo abobrinha, vou ficar feliz em te ler: você pode responder esse e-mail que vou receber sua mensagem (e ficarei muito feliz em te ler).
alerta: alto risco de desejar uma Pink Lemonade
entrevista pocket com Lais Menini
A gente, eu e Lais, se conheceu na internet mesmo, quando abri vagas para resenhistas pro meu blog, o Retipatia. Isso deve ter sido há uns duzentos anos atrás, porque tenho certeza que já tem tudo isso que conheço Lais (se pá, tem até mais).
Além de criarmos conteúdo na internet e sermos apaixonadas pela Jane Austen, a gente mora na mesma cidade e tenho o privilégio de chamá-la de amiga.
Há um tempo, ela, sabendo da minha resistência atual em ler romances românticos, me chamou para ler a primeiraversãofinalfinalizada.doc de Teoria do Amor.
É claro que aceitei, dei pitaco até falar chega e saí de lá com sede de Pink Lemonade (e de um meio italiano também, mas abafa o caso).
O caso é que agora a versão finalfinalprapublicar.doc finalmente saiu do mundo digital e ganhou páginas impressas com a Quintal Edições (editora muito querida por aqui também).
E, por tudo isso (e mais um pouco), a Lais Menini é a convidada para a entrevista do mês da GLit: abram alas que Teoria do Amor vai te conquistar!
O que você pode contar sobre o enredo e os personagens de Teoria do Amor?
L. M.: Alice é professora de física e estava de casamento marcado com Rodrigo, o “Cara Certo”, que é um gênio da física, e por quem nutria profunda admiração. Trinta e seis dias antes do evento, ele terminou tudo, deixando-a perdida e arrasada.
Convencida por sua mãe, durante uma nada trivial inspeção de bem-estar (o chaveiro que arromba sua porta pensa até que encontraria um cadáver no meio da sala! #vibesdetruecrime), ela decide fazer a lua de mel sem marido. O destino: Paris. Ela tinha custado a convencer Rodrigo a ir para a capital francesa, com a desculpa de um evento científico que rolaria por lá, mas só porque ela mesma, desde pequena, nutre o sonho de conhecer a cidade.
Nessa empreitada também estão Emma e Erica, as melhores amigas, embora ela ainda deixe um amigo muito especial para trás, acompanhando, no Brasil, as aventuras do trio.
Acho que, se falar mais que isso, vou acabar tirando a graça da leitura! Então convido quem gosta de romance contemporâneo a viajar com Alice para Paris, por conta própria, e ver no que vai dar. ;)
Você pode contar um pouquinho sobre seu processo de criação do livro, como surgiu a ideia para ele, existiram desafios pessoais a serem ultrapassados?
L.M.: Essa parte é um rolê bem aleatório. A ideia eu tive em 2012, ouvindo uma música dos Paralamas do Sucesso, mas demorei quase dez anos para desenvolver o enredo todo. Era difícil porque, de um lado, eu tinha a história, tinha a personagem mas não sabia como começar. Ia conversar com outros autores, para ter a mais vaga ideia, e ficava ainda mais perdida.
Quando finalmente comecei o processo de escrita, fui surpreendida ao ver que a história da minha cabeça não ia se concretizar, porque os personagens não queriam o caminho que eu tinha traçado!
Era assustador e mágico ao mesmo tempo. Em determinadas etapas, eu ia escrevendo no fluxo, parava, olhava para trás e dizia: "não pode ser, não é isso que está acontecendo!", e o mistério do que viria a seguir me deixava cada vez mais empolgada.
Digo com tranquilidade que, se fosse escrever estritamente o que tinha na cabeça, quando a ideia veio, e o que acabei publicando, a ideia inicial seria um lixo que não valeria a leitura. Por sorte deixei os personagens falarem, ganharem vida própria e conduzirem a narrativa. Eu só psicografei.
Me conta sobre a mensagem principal que você queria compartilhar com as pessoas!
L. M.: Essa é outra coisa que me chocou muito porque eu só descobri a mensagem depois que o livro já estava escrito. Quando escrevi "FIM". Eu achava que era algo sobre descoberta, feminismo, sobre amor romântico, sobre superação... e tem tudo isso, porque cabia no enredo, mas eu posso dizer que Alice – embora ela nunca vá saber disso, de fato – é uma sobrevivente. Depois que escrevi, depois que vi o que a história se tornou, com toda a leveza que minha psicografia tentou imprimir, constatei, bem chocada, que aquilo tudo poderia ter terminado muito mal para ela.
E não digo "mal" de tristeza e fossa, mas mal mesmo. De verdade. De coisas trágicas.
Então a mensagem que eu tirei do livro, e que talvez alguém mais enxergue, não sei, é que é importante seguir a intuição, mesmo quando somos absolutamente racionais (ou tentamos ser), porque não temos nada além de nós mesmos para sobreviver aos obstáculos do mundo. Amigos ajudam, família ajuda, amores ajudam, mas se a gente deixar de ouvir a vozinha de dentro, talvez essas pessoas não tenham sequer um objeto a ajudar.
Qual foi a melhor parte de publicar Teoria do Amor?
Colocar no mundo esse universo que criei pra mim – ou que Alice criou para mim – e perceber que tem gente que também se diverte com ele. Não sei quanto aos outros escritores, os famosos, com grana e prestígio, mas, para mim, a grande realização de ser publicada é ouvir os feedbacks. Tanto os positivos quanto os negativos. Fazer alguém se importar o suficiente para ler algo que você inventou é muito difícil, e eu fico realmente agradecida por cada retorno que tenho. Eu escrevi a história que gostaria de ler. Faz de mim a figura mais feliz do mundo saber que ela também colore os dias e diverte tantas outras pessoas.
A pré-venda especial com desconto + brinde tá rolando na Loja da Quintal Edições e por lá você também pode usar o cupom RETIPATIA10.
rodapé
Obrigada por ler até o fim, e fica o lembrete pra acompanhar a GLit também pelo Canal Drops de GLitter no Instagram: lá tem dicas, posts de inspiração, avisos, enquetes e muito mais!
A gente se lê na próxima semana, GLitter, foi um prazer escrever para você.
Amei o livro, vou colocar na wishlist.
Sobre parcerias, isso realmente causa uma loucura nas pessoas e eu entendo completamente, been there, done that quando tinha meu antigo blog e fui uma das que desistiu e criou uma síndrome do impostor gigante pelos nãos que recebi. Hoje ainda tento retomar minha confiança, faz mais de 10 anos e ainda dói como se tivesse sido ontem, mas seguimos tentando.
se a gente for depender da aprovação ou validação alheia seja pro que for , ninguém sairia do lugar kkk. Eu sou a única que ler na minha família, nunca tive incentivo, mas os livros são tudo pra mim, assim como a arte. Vejo que temos que aprender ainda a olhar nosso trabalho com mais carinho, parar de achar que ele só tem valor se tiver prêmios, status, destaque X, Y seguidores, 50 oportunidades, Z curtidas etc.. isso até pode ser importante em nível de mercado, mas nosso trabalho é bom porque somos nós que fazemos, porque gostamos, pq faz diferença na nossa vida, se somos reconhecidas no meio e ganhamos uma grana já é um bônus. Durante as 24h nós mulheres desenvolvemos vários trabalhos que as pessoas não enxergam como trabalho e que 90% não é remunerado, mas o errado é o sistema e não nós que estamos aqui lutando. Adorei seu texto .. xêroo