Capítulo 43: criadora procura: a resiliência do caleidoscópio
+ entrevista pocket com Kamile Girão
se tudo muda o tempo todo no online, como é que a gente continua firme ao longo da jornada?
miolo
caleidoscópio.
kalos (belo ou bonito) + eidos (imagem ou figura) + scope (olhar (para), observar).
instrumento óptico que serve para formar efeitos visuais simétricos a partir de um conjunto de espelhos e pedaços de vidros coloridos que são colocados dentro de um tubo.
Estava pensando esses dias na quantidade de anos os quais venho me dedicando a criar conteúdo literário: desde 2016. Mas, parece mesmo é que foi há um milhão de anos.
Quando olho para trás, vejo o quanto as coisas mudaram com as novas plataformas, novos formatos, novos algoritmos e novas formas de consumir.
É uma montanha-russa que pode desanimar a gente com frequência, porque, na maior parte do tempo, tudo parece apenas caos. As mudanças são cada vez mais rápidas e é fácil se perder no mar de trends, de formatos e de padrões.
Falo, quero dizer, escrevo, com conhecimento de causa. Minha jornada se assemelha muito mais com uma montanha-russa do que com uma escada.
Ao mesmo tempo, fica a questão, como perdurar, como permanecer quando tudo é tão incerto e instável?
Foi pensando nisso que me deparei com uma ideia presente em Fisheye, da Kamile Girão que descreve bem o que nem sempre é fácil colocar em palavras:
“…havia percebido que eu poderia ser como os pequenos vidros do caleidoscópio. Eles ainda se reorganizavam harmonicamente depois de uma mudança brusca no curso, eles ainda conseguiam ser belos mesmo que o tubo continuasse a se movimentar sem avisá-los do que estava por vir. Eles sempre encontrariam uma forma de se adaptar.”
Tenho um caleidoscópio antigo em casa, que já precisou ser até reencapado para durar mais um pouco. Por mais que várias outras coisas e brinquedos tenham ido embora ao longo dos anos, ele permanece aqui.
Talvez seja porque toda vez que o pego, olho pela fresta e giro o tubo para formar imagens, sei que aquilo ali é o reflexo da imperfeição. E ele é bonito demais.
Um caleidoscópio é como um portal mágico que espelha a ordem a partir do caos.
E nossa jornada de criadora está envolta exatamente nesse caos que é a internet: complexa, mutável, volátil e voraz. Ao invés de nos vermos engolidas pelo todo, podemos pensar que somos os pequenos vidros coloridos que se realinham constantemente, seguindo as estruturas inescapáveis do mundo, mas criando sempre algo novo, único e nosso.
Uma jornada que não tem exatamente começo, meio ou fim, ela é constante, assim como nossa necessidade de se manter adaptando, mudando, criando e coexistindo. Resiliente como um caleidoscópio.
fisheye, caleidoscópio & balões
entrevista pocket com autora Kamile Girão
Quando conheci a Kami, isso tudo aqui era mato (e a GLit nem existia).
Para você ter ideia, minha resenha da primeira edição de Fisheye foi em 2018, feita no blog e, de lá para cá, o livro não apenas ganhou uma edição final com nova capa, como também foi agraciado pelo Edital de Aquisição de Acervo Bibliográfico através da Lei Aldir Blanc, promovido pela Secult-CE em 2020.
Além de ser uma leitura para lá de aconchegante, Fisheye tem duas coisas que amo nos livros: inspiração em contos de fadas e representatividade.
Mas, ninguém melhor do que a própria autora para te contar sobre essa história e, o mais legal, te dar um spoiler incrível do seu novo projeto, com exclusividade para a GLit ✨-✨
“…talvez, eu mesma conseguiria encontrar a tranquilidade e a segurança que me faltavam em toda aquela loucura se eu me esforçasse para me enxergar através do prisma de um caleidoscópio.”
1. O que você pode contar sobre o enredo e os personagens de Fisheye?
Fisheye foi a minha despedida da adolescência, uma etapa necessária para que eu entrasse no universo dos adultos. A história fala sobre a Ravena Sombra e a sua descoberta enquanto pessoa PCD: ela é diagnosticada com retinose pigmentar, uma doença que vai minando o seu campo de visão e pode levá-la à cegueira.
A Ravena foi uma personagem complexa de ser construída, porque ela tem uma jornada de amadurecimento muito importante dentro do livro. Então ela passa por muitas fases para conseguir se entender e se aceitar para além do diagnóstico. Já os demais foram mais tranquilos de serem trabalhados, porém todos possuem questões pessoais que precisam de desenvolvimento.
2. Você pode contar um pouquinho sobre seu processo de criação do livro, como surgiu a ideia para ele e se existiram desafios pessoais a serem ultrapassados?
A ideia veio após a leitura do conto original d'A Bela e a Fera e se formou depois que li O Fantasma da Ópera (histórias que em nada conversam diretamente com Fisheye, mas que ajudaram a plantar a sementinha). Demorei um ano para colocar a ideia do papel e mais dois para ter a primeira versão completa, muito porque a pesquisa de Fisheye foi intensa. Eu queria muito ser respeitosa e fazer algo crível, até me submeter ao exame para detectar a doença eu me submeti. O respeito, para mim, era o fio condutor de toda a história, então a dedicação foi a mil. Fico feliz que tenha dado tudo certo.
3. Me conta sobre a mensagem principal que você queria compartilhar com as pessoas!
Depois desses anos, vi que muitos leitores retiraram diversas mensagens de Fisheye, o que me deixa muito empolgada. Eu queria muito passar uma mensagem positiva principalmente para os leitores mais jovens, sobre aceitação e acolhimento, e acho que consegui. Fico muito orgulhosa!
4. Qual foi a melhor parte de publicar ou de republicar Fisheye?
A recepção dos leitores, sempre. Mas, para mim, foram quando meus leitores PCD conseguiram se identificar com a personagem. Valeu o mundo todo para mim.
5. E sobre o projeto novo, que você anunciou recentemente, chamado Entre Quadros e Balões, o que você pode contar sobre os personagens e a história?
Claro! Entre quadros e balões (ou EQB/Balões), é essencialmente um romance, mas que trabalha temas como luto, sonhos e paixão pelo universo dos quadrinhos. A história gira em torno da morte de uma jovem chamada Lizandra e do impacto que esse fato teve para duas pessoas que foram muito próximas a ela: Ian, o noivo, dono de uma comic shop chamada Próxima Página, e Nara, uma ex-amiga que deseja ser quadrinista. Eles não se conhecem, mas o fator comum "Lizandra" vai aproximá-los. Apesar da aversão inicial que um sente pelo outro, eles vão precisar trabalhar juntos para enfrentar a perda.
6. Como foi o processo de escrever Entre Quadros e Balões? Você tinha clara alguma mensagem que queria passar para quem lê?
EQB é uma ideia antiga, que comecei a requentar durante a escrita de Fisheye. Meu plano era escrever pós-Fisheye, mas eventos me deixaram criativamente bloqueada. Retornei à história em 2020, durante os meses mais dramáticos da pandemia, e levei apenas três meses para terminar o primeiro rascunho. Aconteceu quando deveria ter acontecido, e a história me ajudou a manter minha sanidade durante o período do lockdown.
Com essa história, eu queria trabalhar muito a minha própria percepção com o luto, ainda que de forma diferente do que aconteceu comigo. Talvez, até agora, tenha sido uma das minhas histórias mais pessoais, porque coloquei muito de mim e sofri horrores com o perfeccionismo. Mas estou bastante satisfeita com o resultado e com o fim desse ciclo - e início de outro!
7. Tem algum segredinho ou spoiler sobre Entre Quadros e Balões que você pode contar em primeira mão para as GLitters?
Pode ser mais de um? Olha que capa maravilhosa! Foi feita pela minha amiga Valdir Marte e será divulgada na próxima semana nas minhas redes.
Semana que vem, a pré-venda também vai começar, fiquem de olho 👁️👁️:
Você pode conferir Fisheye da Kamile Girão em e-book na Amazon (também disponível pelo Kindle Unlimited) e acompanhar a autora pelo Instagram @kamigir.
chegou: o Marketplace do Instagram
entrelinha
O Instagram anunciou oficialmente a chegada do Marketplace no Brasil, ferramenta que funciona como uma plataforma de encontro e conexão entre marcas e creators.
Falei sobre as expectativas sobre a ferramenta no Capítulo 40 e a previsão do requisito de 10k de seguidores se confirmou como um dos necessários para o acesso.
Porém, vale lembrar que, como toda ferramenta do Instagram, mesmo com todos os requisitos preenchidos, isso não significa que a atualização já esteja de fato disponível para o seu perfil.
Neste post aqui você pode conferir todos os detalhes informados pelo Instagram até agora sobre o funcionamento do Marketplace no Brasil.
rodapé
Obrigada por ler até o fim e seguir com a GLit em mais um capítulo, é sempre um prazer escrever para você.
A gente se lê na próxima quarta, GLitter, às 17h, na hora do chá!