das incertezas à uma breve viagem no tempo
miolo
De abril pra cá, quando o Capítulo 66 da GLit foi ao ar, muita coisa aconteceu.
Comecei um freela novo, fui na Bienal Mineira do Livro, decidi ir na Bienal do Rio, voltei a escrever, comemorei aniversário de pessoas queridas, fiz listas e cumpri tarefas, fiz um mini vídeo de terror, finalizei leituras, continuei outras e comecei um outro punhado. Nada necessariamente nessa ordem.
A Bienal Mineira do Livro aconteceu do dia 3 a 10 de maio e fui ao evento no dia 3, bem no comecinho da feira, pra ver tudo com calma, passear, ver livrinhos e evitar a multidão.
Pra quem tem experiência com Bienais de São Paulo ou até do Rio de Janeiro, a mineira não é tão grande, mas foi um evento bem organizado e que me surpreendeu positivamente em vários aspectos (o que não significa que não tenha pontos que eu acredite que possam melhorar, claro).
Foi só na última quinta que mostrei nos stories os livros que comprei por lá e isso me trouxe a sensação de que eu estava falhando como criadora.
Às vezes, a gente sente que, se viveu determinada coisa, a validação online precisa acontecer.
No geral, não é algo que me acomete, pra ser sincera (já faz tempo que sou seletiva com o que mostro e, mais, focada em viver primeiro e postar depois), mas nesse caso em específico, o sentimento veio.
Resolvi cavar um pouco e pensar a respeito e acabei viajando um pouco no tempo.
Crio conteúdo literário já tem 9 anos. Parece que foi outro dia em abril que resolvi criar um blog e falar das coisas que eu gostava na época, logo me voltando para os livros e seu universo e, bem, aqui estamos.
Ao mesmo tempo que parece um piscar de olhos, é quase uma década, e é impossível que a gente não avalie os pontos altos e baixos dessa trajetória, enquanto pensa no que conquistamos e quais sonhos deixamos pelo caminho.
Era março quando eu havia planejado fazer um bolinho pros 9 anos de blog, fazer algo que celebrasse, de alguma forma, tudo que vivi nessa trajetória.
Mas veio a vida e me deu um leve atropelo, e não apenas a data passou batida - 27 de abril -, como também me vi questionando esse lugar que ocupo hoje enquanto criadora.
De 2016 pra cá, já mudei muita coisa, do estilo de escrita ao estilo de leitura, do modo de fotografar à frequência de criar. Ao mesmo tempo, ainda sou a pessoa que busca seu lugar ao sol no meio de um mercado que nem sempre me favorece.
Às vezes porque não tive sorte o suficiente, às vezes porque não joguei o jogo corretamente ou bravamente o suficiente. São inúmeras variáveis e sei que não é um jogo de certo ou errado.
Essa ideia de falhar, que chega de mansinho e me lembra que eu nem consegui terminar de editar o vídeo que postaria sobre a Bienal Mineira, infiltra na gente não porque somos medrosas, insuficientes ou nosso conteúdo é ruim.
Ideias assim nascem de fora e invadem a gente porque o mundo conectado sempre vai querer mais tempo logado, mais tempo criando, mais tempo fazendo, produzindo, entregando, assistindo e retendo a atenção.
Há alguns dias terminei a leitura do livro Quatro Mil Semanas, que ainda têm me feito refletir bastante sobre o uso do meu tempo e minhas prioridades.
Sabe quando um texto chega e dialoga com você sobre coisas que vem refletindo e te ajuda a ver melhor os caminhos que fazem sentido para você? Foi exatamente assim.
Com esse detalhe em mente, o livro traz reflexões bem pé no chão sobre a forma que encaramos o tempo que temos e como o utilizamos.
A era da atenção na qual vivemos já está tão arraigada em nós que já alterou a percepção que temos sobre o tempo. Enquanto temos cada vez mais coisas que nos ajudam a poupar tempo, também temos a sensação de ter cada vez menos tempo para fazer tudo que queremos, necessitamos, precisamos ou qualquer coisa próxima a isso.
Enquanto criadoras, precisamos de cada vez mais recursos, habilidades e estratégias para captar uma atenção que está extremamente esgotada, dispersa e volátil. É basicamente sobre atender a uma demanda que é impossível de ser satisfeita.
Afinal, estamos falando, de um jeito ou de outro, sobre o hábito de leitura em um país que lê cada vez menos e para pessoas que não conseguem manter a atenção em um vídeo de quinze segundos que não tenha trocentos ganchos e viradas de câmera para reter a atenção, quem dirá em um livro de 300 páginas.
Assim, mesmo com mente consciente e atenta para essas questões, ainda nos perguntamos às vezes se o que estamos fazendo é bom o suficiente, está entregando o suficiente, quanto é suficiente e como superar esse suficiente?
Mesmo sabendo que essa não é uma batalha que eu sequer queira lutar, porque encaro a criação de conteúdo hoje com muito mais leveza e maturidade do que nos primeiros anos de trabalho online, as incertezas às vezes ficam sob o holofote.
Afinal, sei que a relevância do que entrego e as formas de manutenção da minha comunidade ou como meus números soam para quem vê o meu perfil pelo lado de fora, também são importantes dentro do meio no qual estou inserida.
Refletir sobre tudo isso é um passo no caminho de um trabalho mais equilibrado, que não é necessariamente linear ou regular, mas que nos ajuda a manter a sanidade, a saúde e o foco nos nossos objetivos e projetos (e não necessariamente no que o mundo espera ou demanda da gente).
Por aqui, mesmo diante das incertezas, sigo refletindo sobre o meu caminho primeiro e depois nas formas de levar o conteúdo para as pessoas, buscando um equilíbrio entre o que me é exigido pelas plataformas, o que acredito e que o de fato posso entregar pra me manter fiel às minhas crenças e respeitando meus limites.
Por aí, como é para você?
Lembrete: você sempre pode deixar seu comentário por aqui para conversarmos, deixar seu like na news ou responder a este e-mail para conversamos. É sempre um prazer te ler também, GLitter.
as encomendas de esposas estão abertas!
entrevista pocket com a autora Noemi Nicoletti
Foi em janeiro de 2018 que publiquei uma resenha da primeira leitura daquele ano, completamente empolgada.
O livro se chamava Sons de Ferrugem e Ecos de Borboleta, título que me pegou de cara, porque adoro quando um título é diferente e me faze imaginar quando é que será explicado na trama, de forma literal ou não.
Mas a melhor parte disso tudo foi poder conhecer, mesmo que a distância, a Mima Pumpkin, pseudônimo da autora Noemi Nicoletti e a responsável por eu ser, mesmo depois de tantos anos, uma garota Gibson 1941 original.
De lá pra cá, Sons ganhou uma edição física independente, depois ganhou uma casa editorial, a Thomas Nelson Brasil e, agora, pelo mesmo teto, a Mima presenteia suas leitoras com Esposa Sob Medida.
Unindo romance, humor e ficção especulativa, a Noemi traz mais uma história inspiradora e apaixonante com seu mais recente lançamento. E, claro, ninguém melhor do que ela mesma para te contar um pouco sobre o livro e seu universo.
Pega um chazim e vem ler a entrevista:
"O nó da gravata já estava apertado o suficiente; mesmo assim, Mark não parava de ajustá-lo. Deveria ter trazido flores? Droga, deveria ter trazido flores. Bocejou. Estava exausto. Passou a noite toda pesquisando na internet, mas não encontrou nenhuma informação sobre como receber bem uma esposa encomendada."
O que você pode contar sobre o enredo e os personagens de Esposa Sob Medida?
Esposa Sob Medida é um romance que mistura humor, suspense e um toque de ficção especulativa para explorar temas muito humanos: o desejo de controle nos relacionamentos, as expectativas que depositamos em outros e até que ponto estamos dispostos a ir em busca de amor, aceitação e um senso de identidade.
A história gira em torno do Mark Schmidt, um alemão bem machucado emocionalmente. Quando ele descobre que a ex vai se casar, ele decide dar um basta na imprevisibilidade dos sentimentos e, numa noite de bebedeira, recorre a uma empresa que promete a esposa perfeita — sob medida para ele. É aí que entra a esposa, Magdalena. Ela chega com a aparência ideal, como ele tinha pedido, mas começa a agir de formas bem…. Digamos, inesperadas. Conforme Mark começa a tentar descobrir como lidar com ela, o enredo vai ganhando camadas mais profundas. O que parecia inicialmente ser só uma história sobre um homem tentando controlar o amor vira um romance instigante, cheio de reviravoltas, toques de suspense e questionamentos sobre identidade, liberdade, compromisso e o que realmente significa amar alguém.
E apesar do tom divertido e da trama inusitada, Esposa Sob Medida é, acima de tudo, sobre a beleza de se fazer vulnerável e descobrir através das feridas o significado verdadeiro de ser humano.
Você pode contar um pouquinho sobre seu processo de criação da história, como surgiu a ideia para o livro? Existiram desafios pessoais a serem ultrapassados nesse processo?
No começo, tudo o que eu queria era escrever uma história sobre casamento arranjado, mas ainda não sabia exatamente como ou em que cenário. Um dia, comecei a refletir sobre as expectativas equivocadas que muitas vezes colocamos em um futuro parceiro — essa ideia de que ele vai nos completar e tudo vai ser as mil maravilhas, se tão somente nos casarmos com a pessoa “certa". Achei que seria interessante, e até um pouco cômico, explorar isso por meio de uma encomenda impulsiva de uma esposa feita sob medida.
Conforme a história foi tomando forma em um ambiente com toques futuristas, outras camadas começaram a surgir naturalmente. A dependência crescente da tecnologia, o isolamento social, a solidão silenciosa que tantos enfrentam hoje em dia, e até movimentos como o incel e o redpill acabaram entrando na narrativa. De repente, o que começou como uma comédia romântica ganhou profundidade e complexidade que até me surpreenderam.
Levei sete anos para finalizar o livro, e nesse período eu também mudei muito. Me tornei mãe, enfrentei o agravamento de doenças crônicas e vivi experiências que me transformaram. Foi um tempo de amadurecimento, tanto na escrita quanto na vida. Aos poucos, fui enxergando com mais clareza essa beleza trágica que é viver — como a nossa humanidade imperfeita pode tornar tudo mais difícil, mas também mais bonito, quando escolhemos amar e cuidar uns dos outros.
No fim das contas, Esposa Sob Medida é um romance divertido, cheio de emoção, mas também repleto de espaço para reflexão, para quem quiser se aprofundar um pouco mais.
Me conta sobre a mensagem principal que você queria compartilhar com as pessoas!
A principal mensagem que eu quis compartilhar com Esposa Sob Medida é que o relacionamento comprometido entre duas pessoas pode ser, sim, um campo de batalha, mas também uma das experiências mais sublimes da vida humana. Ele tem o potencial de ser uma história de terror ou uma história de redenção — e, às vezes, é um pouco dos dois. Mas a beleza do compromisso "até que a morte nos separe", quando vivido com entendimento e entrega, é algo que ainda me comove profundamente. É algo transcendente. E a gente não precisa ser perfeito, nem ter um parceiro ideal, para experimentar uma amostra disso. Nós somos todos meio quebrados, mas é no meio desse caos de quem nós somos que algo lindo pode surgir. Só que, na minha visão, essa experiência se torna praticamente impossível se estivermos desconectados da fonte de tudo o que é bom, verdadeiro, justo e belo. E essa fonte é Deus. Enquanto não nos reconhecermos Nele, viveremos fragmentados de uma forma muito negativa: muitas vezes centrados em nós mesmos, com uma ideia distorcida de justiça, competindo em vez de amar, desconfiando em vez de nos entregar, exigindo algo do outro que ele jamais é capaz de nos entregar. A história do livro, no fundo, é sobre essa busca por sentido e por conexão verdadeira, e sobre como é possível encontrar esperança e redenção no meio do caos de quem nós somos.
Quais são suas expectativas com a publicação de Esposa Sob Medida, seu segundo livro que sai pela Thomas Nelson Brasil?
Eu aprendi, com o tempo, a não criar muitas expectativas e a deixar espaço para ser surpreendida (kkkkkk). Mas se eu me permitir sonhar um pouquinho, eu diria que meu maior desejo com Esposa Sob Medida é que ele ajude as pessoas a enxergarem o verdadeiro sentido do amor. O amor real é transformador, mas também envolve sacrifício, vulnerabilidade, entrega. Nem sempre é fácil ou agradável — e tudo bem. O que eu mais queria é que os leitores deixassem de ver o outro como um produto ou um instrumento de satisfação pessoal, e passassem a enxergá-lo como alguém eterno, com valor intrínseco. Relacionamentos duradouros não se constroem com exigência, mas com graça — aquela graça bíblica, que é amor totalmente imerecido. Quando aprendemos a oferecer e a receber esse tipo de amor, mesmo com todas as nossas falhas, é aí que um relacionamento se torna verdadeiramente lindo.
5. Você pode contar algum detalhe especial sobre Esposa Sob Medida?
Eu lancei inicialmente como um conto em 2018, bem antes desse boom de Inteligência Artificial pra todo lado e, achei muito curioso, já que é uma coisa tão presente na narrativa. E por mais que o enredo envolva uma "esposa encomendada", talvez quem mais precise de assistência técnica nessa história não seja ela. E isso é tudo que eu posso dizer sem entregar demais! (Kkkkk)
Outra coisa que posso contar é que esse ano irei ao Brasil e estarei na Bienal do Rio! Faremos o lançamento oficial de Esposa Sob Medida no dia 14 de junho.
E sobre suas obras anteriores, conta um detalhe especial de Sons pra gente! E sobre projetos futuros: o que você pode contar?
Sobre Sons de Ferrugem e Ecos de Borboleta, tem uma novidade super quentinha que eu mal consigo guardar... Vai ser uma nova forma de tocar o coração das pessoas.
Ah, e sim… eu ainda sonho em escrever uma continuação para Sons, mas enquanto ela não vem, teremos um presente e tanto neste ano!
Quanto aos projetos futuros, estou trabalhando em um novo livro, mas ainda não posso revelar muito. Assim que ele estiver mais concretizado, prometo manter vocês informados. Só posso adiantar que está mexendo muito comigo e isso costuma ser um bom sinal!
Você pode acompanhar a autora Noemi Nicoletti pelo Instagram @mimapumpkin e encontrar seus livros na Amazon:
Sons de Ferrugem e Ecos de Borboleta | Esposa Sob Medida
rodapé
Obrigada por estar aqui e por ler até o fim, GLitter! A gente se lê no próximo capítulo, às 17h, com uma boa xícara de chá de companhia.